O sonhador




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FLAMENCO TOWERS
CASA DECOR
TORRE BEIJING
GALACTIC SUITE
HOTEL CHIC&BASIC BORN

(Brazil)

O SONHADOR

Para quem o impossível nao existe, criar e invadir o futuro

A partir de 2012, o turismo espacial será turismo de verdade, com três dias de hospedagem a mais de 450 km de altura em apartamento com vista panorâmica para a Terra e direito a assistir 15 vezes diariamente ao nascer e ao pôr-do-sol. A promessa é de Xavier Claramunt, idealizador do Galactic Suite (o primeiro hotel em órbita), cuja filosofia é trabalhar 14 horas por dia, sete dias por semana, “com audácia e nenhuma preocupação com o que os outros vão pensar”. Para ele, o impossível não existe. Tudo se resume a encontrar a maneira e os especialistas certos para tornar uma idéia viável. “Sempre começamos um projeto de mente aberta, sem impor nenhum tipo de limite”, explica. E também sempre fala assim, na primeira pessoa do plural, incluindo os 30 membros de seu estúdio de Barcelona – não por acaso, chamado EQUIP XCL -, porque está convencido de que, em um ofício como o dele, falar na primeira pessoa do singular “é o começo do fim”.
Se alguém poderia estar com o ego nas alturas é esse catalão de 42 anos, que desde 1990 faz sucesso internacional também como joalheiro e designer industrial. Uma versatilidade percebida nas formas geralmente abauladas de seus trabalhos, já que toda a equipe domina as três áreas: o conhecimento espacial da arquitetura, o estudo profundo dos materiais da joalheria e as técnicas de produção do desenho industrial. Assim, é possível aplicar conceitos de uma área em outra e quando acontece, segundo Claramunt, o resultado é sempre inovador. Palavra que descreve com perfeição sua linha de jóias DuchClaramunt, em que uma inocente esfera articulada ao ser aberta se divide num lindo par de brincos, pulseiras e gargantilhas são tramadas com fios de ouro, como numa renda de bil-ro, e diamantes faíscam em anéis de plástico transparente.
O mais grandioso exemplo de múltipla inspiração são as torres do Central Business Center de Hangzhou, ao sul de Xangai, China. Os dois arranha-céus que se erguem frente a frente a 220 m, ao mesmo tempo em que giram sobre o próprio eixo, se tornaram conhecidos como Fla-menco Towers por lembrarem o corpo em movimento dos bailarinos espanhóis. Mas a estrutura dourada e cor de vinho parece principalmente uma jóia de ouro e rubis em escala gigantesca. E as torres de 125 mil m2 que estão sendo construídas às margens do rio Qiantang para abrigar um hotel, escritórios e apartamento de luxo são realmente uma preciosidade pelo que representam. Junto com outras quatro torres menores, vários estacionamentos, um centro comercial e edifícios auxiliares, também projetados pela empresa na mesma área, formam um dos raros trabalhos de arquitetos espanhóis na China, o único de profissionais catalães e o mais importante do EQUIP.
Animado com a perspectiva que se abre para ele no rico e promissor mercado asiático, Xavier Claramunt apresentou no final de 2007 outra idéia arrojada: nada menos do que um catálogo de arranha-céus de 35 a 65 andares com 21 modelos diferentes – ampliáveis para 41 -, à escolha do cliente. Batizado de Ready to Built, ele contraria uma das máximas clássicas do urbanismo, que estabelece a necessidade de sempre levar em conta, em primeiro lugar, o local da construção de um prédio. “Sei que muita gente vai me crucificar”, disse ao apresentar a novidade, que realmente foi considerada uma provocação, “mas incluí no catálogo projetos que fizemos para concorrências e que seria um desperdício manter arquivados.”

Cerca de 60% do pessoal do EQUIP se dedica em tempo integral a desenvolver esse tipo de idéia. Formam um departamento chamado l,AB, que o criativo chefe define como “uma ponta de lança, nossos James Bond”, cuja missão é alimentar a AGENCIA (que trabalha exclusivamente no atendimento de clientes) com soluções como novas tecnologias c formas diferentes de usar materiais – tornando possível, por exemplo, que um fabricante de fibra de vidro para barcos passe a produzir também coberturas chiques e resistentes para telhados. Muitas vezes, o LAB detecta problemas e necessidades futuros e antecipa respostas por conta própria. Mesmo nesses casos, em que não trabalham sob encomenda, explica Claramunt, “os clientes sempre existem. Eles apenas ainda não sabem que um dia serão nossos clientes”.
Na costa de Alicante, o KQUIP espera ver surgir em breve uma dessas idéias de vanguarda. Já existe uma empresa interessada em financiar seu Sea Suite, um hotel submarino projetado para águas pouco profundas de desenho orgânico e material poroso, inspirado nas colônias de corais. Formado por módulos de hospedagem acoplados a uma área central de viso comum, sua estrutura, basicamente de vidro, permite a constante visão panorâmica e a intenção é intercalar, ao sabor das marés, períodos de imersâo total com períodos quase secos. K o acesso poderá ser feito por barco ou por um túnel submerso.
O mais ambicioso dos projetos é o Galactic Suite, nascido de uma brincadeira (“Se fizéssemos um hotel no espaço?”) e de uma pesquisa séria (calcula-se que existam no mundo 40 mil pessoas cuja fortuna lhes permite pagar tranqüilamente 4 milhões de dólares por um pacote turístico em órbita). Um investidor, que Claramunt prefere não identificar, e uma empresa norte-americana cuja ambição é colonizar Marte aplicaram no projeto os quase 3 bilhões de dólares necessários para a construção do hotel e da base de lançamentos e a compra das naves de transporte e de algumas ilhas no Caribe.
Formado inicialmente por cinco cápsulas unidas a um módulo-basc, como um cacho de uvas, o Galactic oferecerá suítes para duas pessoas com 4 m de diâmetro e 7 m de altura, divididas em duas áreas: uma para dormir e outra euvidraçada com visão panorâmica. Para chegar lá, o turista do futuro passará primeiro 16 semanas de treinamento e adaptação à gravidade zero num arquipélago particular do hotel, onde serão instalados um museu aeroespacial, um parque temático e acomodações privilegiadas para que amigos e parentes que tenham o direito a acompanhá-lo nessa primeira etapa possam assistir a tão esperada partida. A 28 000 km/h, os ônibus espaciais farão em poucas horas o percurso de pouco mais de 450 km e, por medida de segurança – e também para tranqüilizar os viajantes -, eles permanecerão acoplados ao hotel durante os três dias de hospedagem. Com formação em engenharia espacial, Xavier Claramunt é o homem indicado para tornar realidade tal aventura. O que fez toda a diferença para conseguir o apoio do pioneiro da internet Marsal Gifra na criação da empresa Galactic Suite Proyets e do site www.galacticsuite.com, que a partir deste ano aceitará reservas para as primeiras viagens, programadas para 2012. Investidores particulares do Japão e dos Emirados Árabes também vêem uma boa possibilidade de retorno financeiro num projeto assessorado por especialistas norteamericanos que desenvolveram soluções criativas para problemas específicos, como trajes especiais dotados de tiras de velcro, para o turista passear pelo hotel colandose às paredes, e uma saía de banho na qual bolhas de água vão flutuar. Se as estimativas forem confirmadas, o Galactic receberá pelo menos 350 turistas por ano e já se cogita a instalação de mais hotéis em outras órbitas…
O arquiteto, que não acredita no impossível, pensa grande sejam quais forem as circunstâncias e os projetos: de banheiros no espaço a louças sanitárias criadas para as empresas Cosmic e Roca, de jóias exclusivas para a Tiffany & Co. de Nova York e utensílios de cozinha para a FACES Ferran Adrià ao gigantesco e superiluminado show room da BMW em Barcelona, de hotéis inteiramente futuristas para grandes redes, como Hospes, Hotusa e Chic & Basic, à reforma e decoração de prédios históricos (caso do Chic & Basic Born Hotel, em Barcelona, que lhe valeu em 2007 o Contractworld de arquitetura e design de interiores, um dos mais prestigiados prêmios do setor).
Uma prova contundente do que esse catalão é capaz foi exibida na Casa Decor Barcelona 2007: um projeto sem precedentes, no qual, usando avançadas técnicas de robótica e jogos de luz, ele conseguiu criar um espaço coberto com milhares de pequenas peças de cerâmica multicolorida que se movia em ondas. O efeito era mágico. E a explicação do arquiteto Xavier Claramunt muito simples: “É preciso ser um pouco visionário”.